23/10/13

Isenheim

A arte é, por agora, posta de lado. Não me interessa o retábulo fabricado a quatro mãos por Haguenau e Grünewald, mas sim os deveres assistenciais dos monges Antoninos. Os irmãos de Isenheim salvavam - literalmente - a pele dos infelizes agraciados com o Fogo de Santo António («o Grande», não o nosso, «dos Olivais»), doença provocada pela ingestão continuada de pão contaminado por um fungo conhecido pelos lavradores como esporão-do-centeio e pelos demais cientistas como Claviceps purpurea. O mundo no início do segundo milénio era mais singelo: os fungos eram males do demónio e os homens da Igreja serviam como mão graciosa de Deus. Em 2013, terceiro milénio, alguma coisa mudou: os fungos continuam males do demónio, mas os homens da Igreja desapareceram. Deram o seu lugar a políticos corruptos, banqueiros e especuladores - homens que não são bem humanos, mas uma mistura infeliz entre fungo, lobo e demónio.